RIO – O carnaval no Rio não terá o brilho da Sapucaí nem as multidões animadas nos blocos de rua devido à pandemia, mas, ainda assim, a cidade atrai turistas. Segundo levantamento do Sindicato dos Meios de Hospedagem do Rio (Hotéis Rio), 41% dos quartos de hotéis estão reservados para o período de 12 a 16 de fevereiro. A estimativa, no entanto, é que a ocupação atinja 65% da capacidade até a próxima terça-feira. Os números estão abaixo dos do ano passado, quando, nesta época, 78% dos quartos já estavam confirmados. Nos dias de folia, a ocupação chegou a 93%. Apesar disso, o setor de turismo e autoridades comemoram o interesse dos visitantes considerado surpreendente. Afinal, no réveillon, a taxa de ocupação ficou em 53%.
— A cidade do Rio tem atrativos que encantam os turistas; não é só o carnaval. Ficamos surpresos com os números. São superiores às expectativas, apesar de a taxa de ocupação ser praticamente a metade da registrada no ano anterior. Isso é compreensível. Nós temos um enorme leque de experiências culturais, compras, gastronomia e natureza, além de pontos turísticos consagrados — afirma o presidente do Hotéis Rio, Alfredo Lopes.
— Sem carnaval a cidade fica mais tranquila, sem tumultos — conta Renata.
Também vindo do Sul, o casal de namorados Leonardo Ribeiro, de 24, e Gláucia Hanna, de 23, não titubeou na hora de escolher o destino.
— Ano passado, estive no Rio e curti todos os blocos. Desta vez, será 100% turismo, com visitas a monumentos e praias da Região dos Lagos — diz Leonardo, que mora em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
Só 8% de estrangeiros
Do total de reservas já feitas, 92% são de visitantes internos, que sairão principalmente de cidades vizinhas à capital fluminense e dos estados de São Paulo e Minas Gerais. No mercado internacional, os americanos e chilenos lideram. Entre as regiões mais procuradas, destacam-se Ipanema e Leblon (61%), Barra e São Conrado (56%) e Leme e Copacabana (40%), seguidas por Flamengo e Botafogo (28%) e pelo Centro (18%).
De acordo com o secretário municipal de Turismo do Rio, Cristiano Beraldo, hotéis, equipamentos turísticos, bares e restaurantes estão bem preparados para receber os visitantes de forma segura:
Alguns hotéis estão oferecendo eventos e descontos em diárias. No Windsor Barra, a tradicional feijoada retorna no próximo sábado, adaptada com os cuidados necessários para evitar o contágio pelo novo coronavírus.
Apesar de todo otimismo, a prefeitura do Rio decidiu proibir a entrada de ônibus, vans e outros veículos fretados na cidade entre os dias 12 e 22, para evitar aglomerações. O mesmo decreto suspende também desfiles de blocos e licenças excepcionais para o comércio ambulante trabalhar em quaisquer eventos durante o carnaval.
Mas nem as restrições e a pandemia fizeram a engenheira de alimentos Ana Carolina Cateli, de 26 anos, desistir de sair de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, para visitar o Rio. Mesmo sem folia:
— É a minha primeira vez na cidade. Quero aproveitar as praias, o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar. Não ter carnaval me traz a sensação de mais segurança e tranquilidade, sem tanto tumulto.
— Nós chegamos ao Rio ontem (segunda-feira) e estamos aproveitando ao máximo. Ficamos encantados com a vista lá de cima, que é linda independentemente do clima e da época — destaca a psicóloga Jéssica Vieira, de 30 anos, que mora em Catelé do Rocha, na Paraíba, e visitou o Pão de Açúcar ao lado do marido, o servidor público Alysson Frazão, de 34.
O Aeroporto Santos Dumont receberá 795 voos domésticos entre os dias 12 e 22 deste mês, enquanto a Rodoviária Rio estima uma queda de 50% no movimento tradicional nesta época do ano.
Campanhas e fiscalização
Especialistas ouvidos pelo GLOBO dizem que a suspensão do ponto facultativo na segunda-feira e o cancelamento dos desfiles devem ajudar a evitar as aglomerações. Mas o infectologista e epidemiologista Celso Ramos Filho, professor da UFRJ, ressalta que é preciso apertar a fiscalização e esclarecer a população sobre a importância de manter o distanciamento social e usar máscara:
Mario Roberto Dal Poz, professor do Instituto de Medicina Social da Uerj, também recomenda mais campanhas de esclarecimento.
— Autoridades, blocos, escolas de samba, devem ajudar a conscientizar a sociedade. E a população deve ser solidária — disse ele.
* Estagiários Diego Amorim, Pâmela Dias* e João Fragoso* sob a supervisão de Vera Araújo e Giampaolo Braga (O Globo)