Após um ano de cancelamento em razão da pandemia, a retomada dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro gera impactos que não ficam restritos aos limites da Marquês de Sapucaí.
O Carnaval atípico de 2022, que será celebrado no feriadão de Tiradentes, também volta a movimentar parte dos setores da economia carioca que dependem da folia.
Após um ano de cancelamento em razão da pandemia, a retomada dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro gera impactos que não ficam restritos aos limites da Marquês de Sapucaí.
A Prefeitura do Rio decidiu transferir o Carnaval do sambódromo para o feriado de Tiradentes devido à escalada de casos de coronavírus no começo do ano.
De lá para cá, com a trégua na pandemia em meio ao avanço da vacinação, os desfiles foram mantidos.
Os blocos de rua, por outro lado, foram cancelados pela administração municipal, que alegou falta de tempo hábil para a organização dos festejos.
“A volta dos desfiles é um alívio, um suspiro, um tubo de oxigênio mesmo. A pandemia impactou muito. Com o retorno, a gente voltou a respirar e até contratou novos funcionários”, afirma Débora Ferreira, gerente de vendas da Casa Pinto, loja do centro do Rio que fornece tecidos para escolas de samba e público em geral.
Apesar de comemorar a retomada da Sapucaí, Débora sinaliza que os negócios ainda não voltaram totalmente ao nível de outros carnavais das escolas no pré-coronavírus.
As incertezas da pandemia reduziram o período de preparação para a festa em 2022 até o início do ano, ainda havia indefinição sobre a realização do evento.
Outro desafio veio da alta dos custos de operação, já que os tecidos ficaram mais caros com os gargalos produtivos e o avanço do dólar ao longo da crise sanitária.
“Tivemos de reduzir as margens. O orçamento das escolas também diminuiu. Foi necessário fazer uma readequação”, conta Débora.
Claudia Sakuraba, proprietária da Carnaval Store, que também vende tecidos para escolas de samba no Rio, vai na mesma linha.
Segundo a empreendedora, a preparação para o Carnaval deste ano foi cercada por desafios, como o tempo mais curto e a alta dos insumos. Mesmo assim, ela comemora a volta dos desfiles.
Claudia começou a se preparar para o Carnaval em agosto. Em períodos anteriores à pandemia, esse processo seria iniciado antes, em maio.
“O Carnaval deste ano é um primeiro passo para uma volta à normalidade. Até pela alta dos preços, as escolas tiveram de adaptar os custos. Esperamos que seja o início da melhora”, relata.
De acordo com ela, a busca por novos fornecedores e a substituição de insumos mais caros por itens mais baratos foram outras opções adotadas para garantir as vendas.
“Fizemos uma ginástica”, define.
ALTA TEMPORADA AMPLIADA PARA HOTÉIS
Já o setor hoteleiro espera que o retorno da Sapucaí gere uma espécie de bônus, segundo Alfredo Lopes, presidente do HotéisRIO (Sindicato dos Meios de Hospedagem do Município do Rio de Janeiro).
“É uma extensão da alta temporada”, diz.
Segundo o dirigente, a ocupação dos quartos da rede hoteleira carioca costumava girar em torno de 60% nos feriados de Tiradentes.
Com o incremento do Carnaval, a projeção é de uma taxa próxima de 85% neste ano. A alta deve ser puxada pelo desembarque de turistas brasileiros.
No período tradicional da folia, em fevereiro, a ocupação na cidade foi de 84%, conforme Lopes.
“A gente tem a vantagem de estar perto de São Paulo. Como o preço das passagens aéreas está alto, a distância menor acaba facilitando a vinda de turistas”, aponta.
ESTÍMULO A BARES E RESTAURANTES
O ramo de bares e restaurantes do Rio também fala em um alívio com o retorno dos desfiles.
“Nosso setor é muito ligado ao turismo. Costuma ter alta na demanda quando há aumento de visitantes na cidade”, afirma Pedro Hermeto, presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) no Rio de Janeiro.
Ele projeta um incremento nominal sem levar em conta a inflação de 20% a 25% na receita do setor, em média, em relação a outros feriados de Tiradentes. “A inflação vai pegar uma parte disso.”
A previsão de maior demanda, segundo o dirigente, vem em um momento no qual bares e restaurantes tentam recuperar as perdas da pandemia e são afetados pela alta dos custos de operação.
“É um alívio. A gente vem observando um aumento no fluxo de clientes de maneira geral. Mas boa parte do dinheiro que entra é mordida pelo passivo criado na pandemia”, pondera.
Se, por um lado, a volta da Sapucaí estimula parte da economia carioca, por outro a ausência dos desfiles de blocos gera frustração.
Como mostrou reportagem da Folha em fevereiro, o cancelamento do Carnaval de rua abalou planos e espalhou preocupação entre vendedores ambulantes e trabalhadores do setor de entretenimento em diferentes capitais do país, incluindo o Rio.
NÚMEROS DA FOLIA
A programação normal do Carnaval de 2020, antes da explosão da pandemia, movimentou R$ 4 bilhões na economia carioca, indica a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação, a partir de dados da RioRiotur a empresa de turismo da capital fluminense.
Esse volume foi distribuído em setores como hotéis, bares, restaurantes, comércio e eventos.
Em 2020, o número de trabalhadores apenas no sambódromo foi de 20 mil, entre prestadores de serviços, funcionários de órgãos públicos e imprensa, conforme a publicação Carnaval de Dados, elaborada pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico em parceria com a Fundação João Goulart.